Palavras há muito perdidas sussurram lentamente pra mim ....
"Uma garotinha entre oito e nove
anos, em um pequeno vestido branco de Páscoa, está andando pela rua da
vizinhança, batendo em uma pequena bola vermelha. Assim que se aproxima de uma
casa imensa e obviamente deserta, com uma atmosfera sinistra, sua atenção se vira
da bola para a casa. Não mais prestando atenção em seu movimento, a bola atinge
o meio-fio, e ricocheteia em direção à casa. Enquanto ela segue a pequena bola
em direção à casa, a bolha ganha movimentos sobrenaturais e quica em direção à
grande porta da frente aberta. A garotinha para por um momento, olha para a
casa, que agora parece estar encarando-a, e cuidadosamente entra na casa para
procurar a bola vermelha. Enquanto calmamente anda para o átrio, observa a
decadente bagunça que um dia fora obviamente uma bela mansão. Ela fica
hipnotizada pelo maravilhoso detalhe de cada centímetro do corrimão,
finalizando o que parecia uma escada infinita a sua frente. Repentinamente seus
pensamentos são quebrados por um tumulto horripilante. Ela se vira rapidamente
para alcançar a porta da frente, mas encontra somente uma parede lisa onde a
porta ficava anteriormente. Assusta, ela corre pelo primeiro corredor que viu,
tentando desesperadamente encontrar uma saída, mas a cada esquina o mundo atrás
dela muda, moldando-se de acordo com o desejo da casa, de um modo que até mesmo
encontrar o caminho de volta para o átrio onde começara se torna impossível.
Assustada, a garota se encolhe em um canto, esconde o rosto com as mãos, e
chora.
Dez anos depois...
A menina acorda em pânico, agora uma jovem mulher.
Suja, levemente machucada. Agora ela está vestida com uma calça preta, bota de
trabalho, e uma blusinha preta. Sua pele está branca e suja. O sol não ilumina
sua carne há uma década. Ela se levanta e encontra uma refeição em uma bandeja
suja de prata à sua frente, somente o suficiente para dar-lhe sustento, como
todas as outras manhãs. Colocada ali por um ser que ela só pode ver passando
por um canto, atravessando uma porta... Um ser que se tornou seu único amigo, e
seu único ódio. Toda a sua existência se transformou em nada além de caçar e
tentar destruir essa sombra que a mantém aqui. Enquanto ela o caça
incansavelmente, dia após dia, ela se perde na dicotomia de sua existência.
Essa coisa que a mantém no local, essa pessoa que repetidamente viola sua mente
e a observa enquanto dorme, se tornou seu único amigo. Se esta pessoa sumisse,
ela deixaria de existir. Por que ela vive só para matá-lo. Mas vive somente POR ele. Todos os dias a casa muda a sua volta, então
todos os dias ela acorda em um lugar desconhecido. A única constância... É ele.
Ela ouve o coração dele batendo, seu cheiro, ela só pode pensar em encontrá-lo,
mas ele também é a única coisa que ela conhece sobre o amor."